quarta-feira, 28 de março de 2012

A Fé e a Ignorância



Filosofia
A Fé e a Ignorância
Aos ricos, para que sejam ainda mais ricos;aos pobres, para que saibam apreciar as causas da sua pobreza.
Nós temos a fé numa alta consideração. Sabemos que, por meio dela, se conseguem muitas coisas. Por isso queremos fazer uma destrinça entre a fé e a ignorância, já que muitas vezes se chama fé ao que verdadeiramente não é fé, mas um produto da ignorância. E, neste caso, chama-se, muito simplesmente, superstição.
A fé consiste em confiar inteiramente no poder divino, em Deus e nos seus agentes, e em fazer os necessários esforços para triunfar nesta vida. Mas, como a finalidade da nossa existência neste mundo é buscar o aperfeiçoamento, o nosso triunfo não deve ser o resultado do esmagamento dos nossos semelhantes ou no esbulho dos direitos alheios, mas no domínio de nós mesmos, dos nossos vícios e defeitos.
O poder divino nunca estará connosco se não fizermos esforços para ser justos e bons com todos os que nos cercam ou vivem no mesmo ambiente.
Ter fé é muito bom! Permite-nos viver com mais calma, ser mais felizes, porque sabemos que não estamos sós e que os poderes celestes nos envolvem e nos ajudam na luta pela emancipação espiritual das misérias terrenas.
(...)
A fé nunca poderá ser imposta! Se o for, deixará de ser fé para ser Medo! Foi este o que resultou dos métodos inquisitoriais empregados durante séculos: originou uma vaga alterosa de sofrimentos cujos efeitos ainda perduram para vergonha da Humanidade.
A ignorância é má conselheira. Desvia-nos sempre do bom caminho; destrói a fé; ergue pedestais à superstição que só pode inferiorizar os seres!
A fé tem de ser iluminada pelo conhecimento! Só esclarecida, com todo o cuidado, pode fortalecer-se e criar poder.
Manter os crentes na ignorância não é cumprir o preceito cristão que nos impulsiona a procurar o conhecimento dos mistérios. Por isso, o cristianismo foi sempre religião e escola, onde se orava e pregava a verdade, sendo os fiéis esclarecidos inteiramente sobre os mistérios da fé. (...)
“Vós sois guardados pelo poder de Deus por meio da fé”...
Parafraseando o texto de Pedro: Deus e os seus poderes estarão sempre connosco se tivermos fé, se confiarmos no poder divino e se tudo fizermos para ajudá-lo: Se assim não for, a fé sozinha não basta para nos ligar aos celestes agentes. A FÉ SEM OBRAS É MORTA! E para ser viva a nossa fé tem de ser acompanhada por acções bondosas em favor dos outros, que tanto podem ser da nossa espécie, como animais e até plantas. Tudo quanto vive neste mundo necessita de amor, de cuidado e de carinho. É neste mundo, onde nos encontramos, que temos a aprender as grandes lições que precisamos. E todas elas devem andar ligadas à fé, queremos dizer, ao amor, nas suas mais belas facetas, sempre despidas de interesses materiais ou mundanos. Se o nosso amor se limita ao nosso companheiro de matrimónio, aos nossos filhos e parentes, nunca faremos qualquer depósito no BANCO CELESTE! Seremos pagos pela mesma moeda! Nós amamo-los e eles amam-nos! E tudo fica liquidado assim. Se temos amor ao dinheiro e aos “bens” terrenos e gozamos por força deles, estamos igualmente pagos. E quando a morte vier libertar-nos da carne aqui deixamos tudo o que temos: o corpo, que vai decompor-se, a fortuna material, que vai arrastar outros pelos caminhos enganosos deste mundo. (...)
E se a fortuna colocou em nossas mãos a riqueza material, devemos acautelar-nos, ser muito previdentes! Porque, se usamos esse dinheiro só para nós e para os nossos, e não o usamos igualmente para fazer bem a outros que necessitam de ajuda, será grande a nossa desgraça no começo de outras vidas. A explicação é simples: não teremos acumulado o nosso tesouro no BANCO CELESTE. Tudo quanto tínhamos de bens terrenos perdemo-los ao morrer, já não os voltaremos a recuperar! Então, seremos pobres no mundo celeste para onde vamos. E quando voltarmos a renascer na Terra seremos mendigos, inadaptados à vida, indigentes. Temos de sofrer as consequências totais da nossa falta de previdência quando tínhamos a posse duma grande fortuna!
(...)
Mas aqueles que bem usaram a sua riqueza, em obras de piedade e de amor ao próximo, terão grande tesouro depositado no BANCO CELESTE. E, por isso, quando voltarem a esta vida irão nascer no seio de famílias ricas e terão novamente as grandes facilidades que o dinheiro concede. E por muito que dispendam os ricos em favor dos pobres, desde que o façam amorosamente, isto é, clarividentemente, impedindo que malgastem o dinheiro na satisfação de vícios e aconselhando sempre o melhor e mais seguro caminho, o que dispenderam não lhes fará falta, porque serão ajudados. Uma tal fortuna será abençoada! A que serve apenas para o uso do seu detentor será amaldiçoada! Ela criará ao seu possuidor, no mundo celeste e nas vidas futuras, as mais graves dificuldades que possamos imaginar.
“Para que o ensaio da vossa fé, muito mais precioso que o do ouro que perece, e que pelo fogo é ensaiado, se ache para louvor, e honra, e glória”1. Continuemos a parafrasear as palavras de Pedro, que são de grande profundidade simbólica e mística. Ele fala-nos do ensaio da nossa fé, querendo tornar-nos mais conscientes e firmes no concernente ao celeste. Ele já nos avisa de que a fé não se obtém por conselhos, nem por práticas devocionais, na realidade boas mas insuficientes. E compara o nascimento da fé, que chama ensaio (prova), com a depuração do ouro. (...)
Ele sabia, como de resto o sabiam os Nazarenos, que a fé e a ignorância são coisas incompatíveis. A fé ignorante é superstição, leva a crer em coisas absurdas; não nos torna fortes. Pelo contrário: enfraquece o nosso poder anímico, as forças da nossa alma, tolhendo-nos muitas vezes a acção benéfica. Mas a fé esclarecida, a fé que resulta do saber, essa eleva-nos constantemente até aos páramos sublimes do apoio divino. E traz-nos satisfação, forças anímicas, felicidade terrena e felicidade celeste. Tal fé leva-nos a buscar Deus e a dar toda a nossa ajuda a outros para que apressem o seu passo na senda evolutiva. É para isso que estamos neste mundo.
A fé tem de ser activa e não poderá exercer-se por dinheiro, nem por interesses mesquinhos! Só assim ela será mais preciosa que o ouro, que pode perecer desaparecer por qualquer forma, até por decomposição química! Mas a fé pura consciente, liberta da ignorância e dos terrenos objectivos, ficará para sempre como factor de felicidade. Ela servirá para nos louvar, para nos honrar e nos dar glória! E esta glória será o fim da nossa evolução, porque nessa altura estaremos cristificados, seremos Cristos!
(Resumo do texto publicado)
Francisco Marques Rodrigues

terça-feira, 27 de março de 2012

10 ensinamentos da cabala!!


1) Tirando todos os seus bens materiais, seu dinheiro, seu estudo e suas realizações, o que resta é o que você é. Pense nisso hoje. O que você é, em essência?
2) Quando você deseja alguma coisa, o universo lhe ajuda a chegar lá, sem selecionar pensamentos positivos ou negativos. Por isso, cuidado com o que você deseja.
3) Não devemos nos satisfazer com o bem que fazemos dentro da nossa natureza, devemos nos motivar a fazer aquilo que está além da nossa natureza.
4) Muitas pessoas ficam atoladas na escuridão. Mas há também os que ficam atolados na Luz. Ficamos contentes por estar em um "bom lugar" e não nos esforçamos para seguir em frente. É preciso subir sempre.
5) Estamos nesta vida para crescer constantemente, e nossa meta deve ser deixar este mundo sendo uma pessoa melhor do que a que entrou.
6) Achamos que as metas que definimos são o objetivo, mas o verdadeiro objetivo é o processo e a transformação pela qual passamos.
7) Concentre-se totalmente em ver suas situações negativas como oportunidades positivas. E deixe que pensamentos positivos dominem sua mente.
8) Hoje, pondere suas palavras antes de permitir que elas saiam da sua boca. Cinco segundos de reatividade podem destruir uma amizade de dez anos.
9) Não leve tudo para o lado pessoal. Você não é o centro de tudo que acontece. Quanto mais você conseguir domar sua forma de pensar egocêntrica mais feliz você será.
10) Seja paciente consigo mesmo se você não estiver onde gostaria de estar. Lembre-se: há um processo.
Comece a mudar
Para começar a revolução pessoal, Cecilia Ben David, coordenadora pedagógica do Centro da Cultura Judaica de São Paulo, dá as 4 chaves para a mudança:
1)Emuná (crença) - Você deve acreditar que pode mudar
2) Ratson(vontade) - Você deve extrair forças da sua própria vontade
3)Avodá (trabalho) - Você deve praticar um programa de introspecção
4)Oneg (prazer) - Você deve sentir alegria do sucesso

segunda-feira, 19 de março de 2012


Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu numa família luterana em 15 de outubro de 1844, filho de Karl Ludwig, seusFriedrich Wilhelm Nietzsche nasceu numa família luterana em 15 de outubro de 1844, filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de Inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em Filologia clássica e Teologia evangélica. Em Bonn, participou da Burschenschaft Frankonia, a qual acabou abandonando em razão de atrapalhar seus estudos. Por diferentes motivos transfere-se depois para Universidade de Leipzig, mas isso se deve, acima de tudo, à transferência do Prof. Friedrich Wilhelm Ritschl(figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário (exército) na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente.
Nietzsche em agosto de 1868
Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (VenezaGênovaTurimNiceSils-Maria…): "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882 ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até a sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como Vontade de Poder[2]. Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma deturpação nazista; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente as comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português[3], e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores.[4].
Durante toda a vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888.
Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

[editar]Obra

Nietzsche ao lado de sua mãe.
cultura ocidental e suas religiões assim como a moral judaico-cristã foram temas comuns em suas obras. Nietzsche se apresenta como alvo de muitas críticas na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certas dificuldades de entendimento na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade.
Nietzsche, sem dúvida considera o Cristianismo e o Budismo como "as duas religiões da decadência", embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche "é cem vezes mais realista que o cristianismo". Religiões que aspiram ao Nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se auto-intitula ateu:
"Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)
A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: agenealogia dos valores.
Friedrich Nietzsche pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para acivilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboçada por Kant, a religião e a política não são para ele nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e até acatharsis aristotélica são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.
Nietzsche criticou essa moral que leva à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pela adoção dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo é adotar essa moral.
A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la.
Não existe vida média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, é mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu merismático júbilo.
O homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: "Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".
Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.
Friedrich Nietzsche em 1861.
Para Nietzsche o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordemestruturaforma e inteligência. Nele as coisas "dançam nos pés doacaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.
Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples "operários da filosofia".
Na obra nietzschiana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.
Aqui, necessário se faz perceber que, ao que superficialmente se parece, Nietzsche cria e cai em seu próprio Imperativo Categórico, por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas. Porém, a liberdade de Nietzsche está entre a aceitação consciente (livre-escolha) de um objetivo moral superior (que transcende a racionalidade do ser humano) e a matéria, a razão material Kantiana. Portanto, a realidade está na escolha consciente entre a moral superior (instinto, vontade do coração) e a moral racional (somatório de valores criados pelo homem). O que reside não nas palavras mas nos sentimentos (amor, musica, etc).
Para Kant a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.
Em Nietzsche encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a idéia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.
Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa - mais uma máscara que a razão não-autêntica impôs à vida humana. O mundo para Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.
Nietzsche era um crítico das "idéias modernas", da vida e da cultura moderna, do neo-nacionalismo alemão. Para ele os ideais modernos como democraciasocialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do "tipo homem". Por estas razões, é por vezes apontado como um precursor da pós-modernidade.
Nietzsche fotografado por Hans Olde no verão de 1899.
A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Como diziaHeidegger, ele próprio nietzschiano, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".
Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento anti-semita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito pode-se ler a posição do filósofo:
Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e anti-semitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[5]
… tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os anti-semitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo… [5]
Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, uma espécie de confraria. Contudo, esta idéia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de idéias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.

[editar]Ideias

Nietzsche em 1862
Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:
  1. "A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas."
  2. "Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmo somos desconhecidos."
  3. "Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."
  4. "O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são."
  5. "Como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil!"
  6. "Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
  7. "Há homens que já nascem póstumos."
  8. "O Evangelho morreu na cruz."
  9. "A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."
  10. "Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
  11. "Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
  12. "O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."
  13. "A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."
  14. "As convicções são cárceres."
  15. "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
  16. "Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."
  17. "Aquilo que não me destrói fortalece-me"
  18. "Sem música, a vida seria um erro."
  19. "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
  20. "A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."
  21. "O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
  22. "Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."
  23. "Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
  24. "Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."
  25. "Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras."
  26. "O Homem evolui dos macacos? É, existem macacos!"
  27. "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
  28. "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
  29. "Torna-te quem tu és!"
  30. "Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar"
  31. "O desespero é o preço pago pela autoconsciência"
  32. "O depois de amanhã me pertence"
  33. "O padre está mentindo."
  34. "Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto."
  35. "Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um."
  36. "Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte."
  37. "Será o Homem um erro de Deus, ou Deus um erro dos Homens?"
  38. "É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança."
Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual se unem palavras que não poderiam estar próximas ("Nascer póstumo"; "Deus Morreu", "delicadamente mal-educado", etc… ).
Adorava a França e a Itália, porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como último grande alemão Goethehumanista como Voltaire. Naqueles países passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a prepotência e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irmã e com Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia - o rigor germânico, o anti-semitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos após sua morte, com a primeira grande guerra e a gestação do Nazismo. dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Iniciou seus estudos no semestre de Inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em Filologia clássica e Teologia evangélica. Em Bonn, participou da Burschenschaft Frankonia, a qual acabou abandonando em razão de atrapalhar seus estudos. Por diferentes motivos transfere-se depois para Universidade de Leipzig, mas isso se deve, acima de tudo, à transferência do Prof. Friedrich Wilhelm Ritschl(figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário (exército) na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente.
Nietzsche em agosto de 1868
Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (VenezaGênovaTurimNiceSils-Maria…): "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882 ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até a sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como Vontade de Poder[2]. Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma deturpação nazista; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente as comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português[3], e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores.[4].
Durante toda a vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888.
Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

[editar]Obra

Nietzsche ao lado de sua mãe.
cultura ocidental e suas religiões assim como a moral judaico-cristã foram temas comuns em suas obras. Nietzsche se apresenta como alvo de muitas críticas na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certas dificuldades de entendimento na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade.
Nietzsche, sem dúvida considera o Cristianismo e o Budismo como "as duas religiões da decadência", embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche "é cem vezes mais realista que o cristianismo". Religiões que aspiram ao Nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se auto-intitula ateu:
"Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)
A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: agenealogia dos valores.
Friedrich Nietzsche pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para acivilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboçada por Kant, a religião e a política não são para ele nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e até acatharsis aristotélica são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.
Nietzsche criticou essa moral que leva à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pela adoção dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo é adotar essa moral.
A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la.
Não existe vida média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, é mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu merismático júbilo.
O homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: "Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".
Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.
Friedrich Nietzsche em 1861.
Para Nietzsche o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordemestruturaforma e inteligência. Nele as coisas "dançam nos pés doacaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.
Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples "operários da filosofia".
Na obra nietzschiana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.
Aqui, necessário se faz perceber que, ao que superficialmente se parece, Nietzsche cria e cai em seu próprio Imperativo Categórico, por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas. Porém, a liberdade de Nietzsche está entre a aceitação consciente (livre-escolha) de um objetivo moral superior (que transcende a racionalidade do ser humano) e a matéria, a razão material Kantiana. Portanto, a realidade está na escolha consciente entre a moral superior (instinto, vontade do coração) e a moral racional (somatório de valores criados pelo homem). O que reside não nas palavras mas nos sentimentos (amor, musica, etc).
Para Kant a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.
Em Nietzsche encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a idéia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.
Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa - mais uma máscara que a razão não-autêntica impôs à vida humana. O mundo para Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.
Nietzsche era um crítico das "idéias modernas", da vida e da cultura moderna, do neo-nacionalismo alemão. Para ele os ideais modernos como democraciasocialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do "tipo homem". Por estas razões, é por vezes apontado como um precursor da pós-modernidade.
Nietzsche fotografado por Hans Olde no verão de 1899.
A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Como diziaHeidegger, ele próprio nietzschiano, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".
Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento anti-semita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito pode-se ler a posição do filósofo:
Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e anti-semitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[5]
… tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os anti-semitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo… [5]
Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, uma espécie de confraria. Contudo, esta idéia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de idéias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.

[editar]Ideias

Nietzsche em 1862
Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:
  1. "A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas."
  2. "Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmo somos desconhecidos."
  3. "Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."
  4. "O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são."
  5. "Como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil!"
  6. "Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
  7. "Há homens que já nascem póstumos."
  8. "O Evangelho morreu na cruz."
  9. "A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."
  10. "Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
  11. "Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
  12. "O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."
  13. "A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."
  14. "As convicções são cárceres."
  15. "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
  16. "Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."
  17. "Aquilo que não me destrói fortalece-me"
  18. "Sem música, a vida seria um erro."
  19. "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
  20. "A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."
  21. "O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
  22. "Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."
  23. "Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
  24. "Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."
  25. "Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras."
  26. "O Homem evolui dos macacos? É, existem macacos!"
  27. "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
  28. "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
  29. "Torna-te quem tu és!"
  30. "Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar"
  31. "O desespero é o preço pago pela autoconsciência"
  32. "O depois de amanhã me pertence"
  33. "O padre está mentindo."
  34. "Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto."
  35. "Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um."
  36. "Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte."
  37. "Será o Homem um erro de Deus, ou Deus um erro dos Homens?"
  38. "É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança."
Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual se unem palavras que não poderiam estar próximas ("Nascer póstumo"; "Deus Morreu", "delicadamente mal-educado", etc… ).
Adorava a França e a Itália, porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como último grande alemão Goethehumanista como Voltaire. Naqueles países passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a prepotência e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irmã e com Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia - o rigor germânico, o anti-semitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos após sua morte, com a primeira grande guerra e a gestação do Nazismo.